domingo, 5 de dezembro de 2010

Comentários sobre a Prova de 2ª Fase - COVEST - Vestibular 2011

Olá coleguinhas!

Como prometido, eis aqui os comentários sobre a prova da Covest de 2ª Fase realizada na manhã de hoje em todo o Estado de Pernambuco. Confirmando a tendência da banca examinadora, a prova foi bem distribuída entre questões de História Geral e História do Brasil, com destaque para algumas ausências não esperadas, como questões sobre Era Vargas e Segunda Guerra Mundial. A boa notícia se confirmou com a contemplação de temas da atualidade, o que valorizou o conhecimento do Fera que esteve o ano inteiro lendo, se informando e conhecendo mais da conjuntura global.

Gostaria de chamar a atenção para algumas questões, que destaco mais abaixo:


03. A religião muçulmana foi eixo da cultura de muitos povos e estimulou conquistas importantes no campo
das vitórias imperialistas. Possui semelhanças com a religião cristã, embora mantenha tradições vindas de
outros credos. A propósito, a religião muçulmana:

0-0) cultua um único Deus, além de, como os cristãos, acreditar na existência do bem e do mal.
1-1) ficou ausente dos feitos culturais da literatura medieval, vinculando-se apenas às reflexões filosóficas.
2-2) acredita nas revelações de Maomé, seu grande profeta, que prometia o paraíso para seus seguidores.
3-3) se rege pelo Livro do Alcorão, onde se pode encontrar os princípios que definem suas crenças e suas relações com o judaísmo.
4-4) desconfia das promessas de um juízo final, embora acredite na existência do inferno e do paraíso.

Questão sobre o mundo islâmico, confirmando uma tendência atual de valorizar a cultura do Oriente Médio em vestibulares. Questão abrangente, de nível fácil e sem maiores dificuldades para o Fera.



10. As transformações econômicas modificaram muito os hábitos sociais e derrubaram tradições seculares
com a expansão do capitalismo. No Modernismo, com as vanguardas culturais:

0-0) Pablo Picasso trouxe perspectivas diferentes na forma de pensar a estética na pintura e em
suas formas de se apresentar.
1-1) Joan Miró abalou a sociedade espanhola com sua obra artística e suas reflexões radicais
contra a democracia.
2-2) Paul Gauguin explorou outras dimensões das cores, criticando os exageros dos urbanos e da
cultural industrial.
3-3) Igor Stravinsky retomou o romantismo na música, construindo uma obra pouco original e
bastante polêmica.
4-4) Marcel Duchamp seguiu a estética dos impressionistas, pintando cenas do cotidiano
industrial da época e exaltando a subjetividade.

Questão sobre História da Arte, de nível mediano-difícil, o que também têm se traduzido enquanto uma tradição das provas de 2ª Fase, especialmente em relação à estética Modernista, determinante no início do séc. XX.



13. A presença do Partido dos Trabalhadores marcou a vida política nacional nas últimas décadas. Nas suas
origens, o PT teve dificuldades para eleger seus candidatos e recebeu muitas críticas dos setores
mais tradicionais. Atualmente, o Partido dos Trabalhadores:

0-0) segue uma linha de atuação em defesa do socialismo, não construindo alianças com outros partidos ditos liberais.
1-1) firmou-se como força de poder nas diversas esferas da vida social brasileira, depois dos governos de Luís Inácio.
2-2) afastou-se do seu ideário socialista, assumindo o capitalismo e se articulando apenas com os
grupos mais ricos.
3-3) tem uma representatividade política importante no Congresso Nacional, além de contar com o
governo de alguns Estados.
4-4) rompeu com os movimentos populares e construiu uma economia que não quebrou o modo capitalista de produção.

Questão bastante específica sobre o Partido dos Trabalhadores e sua trajetória do Brasil. Considerada de nível médio, uma vez que o Fera não encontra essas informações em muitos livros de Ensino Médio, mas sim em revistas e jornais, precisando que o professor de História concentre comentários sobre o tema em sala durante as revisões. Parece ser uma tendência da prova contemplar esse tipo de questão para os próximos anos, uma vez que ano passado também tivemos exemplos similares.



15. O mundo se enche de espetáculos, onde tudo é
programado para exibir efeitos especiais e
grandiosidade, sobretudo os eventos internacionais.
No ano corrente, a Copa na África do Sul ganhou
manchetes e imagens portentosas. O crescimento da
tecnologia tem sido veloz e sedutor. Esse
crescimento:
0-0) garante a força do capitalismo e a manutenção
do equilíbrio da economia norte-americana, que
tem estado a salvo de crises econômicas.
1-1) anuncia a chegada de uma era de democracias
seguras e inquestionáveis, mesmo nos países
mais pobres.
2-2) ajuda na concentração de riquezas e pode criar
a impressão enganosa do fim da miséria e da
exploração social.
3-3) acontece, com mais ênfase, nos meios de
comunicação e se destina, sobretudo, à
divulgação dos êxitos sociopolíticos dos países
mais ricos.
4-4) fortalece a divulgação da diversidade étnica e
cultural, vincula povos de forma democrática e
extingue os preconceitos.


16. Viver as crises e os desencontros faz parte da
cultura humana. O tempo histórico não é linear, e as
mudanças ocorrem trazendo desafios. No mundo
contemporâneo:
0-0) há perspectivas de uma paz permanente, com a
concretização de uma convivência global e
solidária em todas as culturas.
1-1) torna-se difícil a massificação absoluta, pois
acontecem rebeldias e protestos contra os
exageros da sociedade de consumo.
2-2) afirmou-se uma sociedade baseada no
conhecimento científico e marcada pela
informação e igualdade social.
3-3) desfizeram-se os preconceitos raciais do século
XX, abrindo espaço para a multiplicidade e a
democracia política.
4-4) instituiu-se uma forma diferente de fazer
política, quebrando hierarquias tradicionais e
acentuando a solidariedade geral.

As duas últimas questões da prova, acima, contemplando os acontecimentos do mundo atual. Questões de nível fácil-mediano, procurou explorar os conhecimentos do Fera informado, como citado no início deste comentário.


No mais, tivemos uma prova sem contestações ou questões passíveis de erros crassos. Fazendo jus ao título de Específica, apenas apresentou dificuldades em relação às datas, o que sempre foi uma tendência da banca da Covest. O Fera bem preparado, certamente, não teve maiores dificuldades, pois a prova foi bem acessível.

Espero que você tenha tido sucesso!

domingo, 26 de setembro de 2010

Caminhando ao contrário

"Nunca fui militante político". Com essa frase, Geraldo Vandré desmitifica sua imagem como grande ícone da oposição artística ao Regime Militar brasileiro. Na verdade, o artista apresenta um perfil que poucos conhecem, ambivalente e ainda repleto de perguntas não esclarecidas pelo silêncio do próprio.

Em entrevista ao Dossiê Globo News, Geraldo Vandré falou sobre os sucesso de "Disparada" e "Caminhando", duas músicas de sua autoria que se tornaram marcos durante o fim dos anos 1960 e início dos anos 1970. Vistas como hinos daqueles que se colocaram contra a Ditadura, o sentido expresso pelo autor nas letras demonstra que havia uma identificação com todas as partes do Brasil daqueles Anos de Chumbo, mas ao mesmo tempo revelava um cantor que não pensava plenamente daquela forma. Obtendo o reconhecimento que procurou, como disse ao jornalista Geneton Moraes Neto, Vandré viveu no exílio desde 1968, teve suas canções vitimadas pela censura e passou a habitar na clandestinidade por muitos anos.

Hoje, vivendo como funcionário público aposentado em São Paulo, aos 75 anos ele revela uma profunda admiração e identificação com os membros da Aeronáutica, chegando inclusive a compor para as Forças Armadas. Segundo o próprio Vandré, os militares nada tinham contra ele, a luta era um engajamento político contra o Congresso, fechado inicialmente em 1964 pelo AI-1 e posteriormente remodelado pelo AI-5 em 1968. Um vídeo na internet mostra ele acompanhando uma apresentação do Sargento Lago em São Paulo onde este canta "Caminhando" aos olhares atentos do compositor, que chora emocionado e depois recebe, ovacionado, as homenagens do público:

Show do Sargento Lago em 09 de setembro de 2008

Buscando a última realização de sua vida, anseia por apresentar canções por toda a América Espanhola, onde diz ter investido tempo e dinheiro num possível retorno aos palcos. Colocando o Brasil em segundo plano, não mostra desejo em cantar pelo país afora, especialmente pelo sentido mercadológico dado à música. O projeto de Vandré gira todo em torno da Aeronáutica, onde dedica a maior parte de seu tempo e produção atualmente, compondo peças sinfônicas para a FAB.

Essa ambivalência no perfil do cantor e compositor se revela na frase "todos os países soberanos possuem suas Forças Armadas". Esta visão revela que o libertador dos anos 60 na verdade tinha uma duplicidade não revelada dentro de si, a qual somente depois da terna idade que possui atualmente teve vontade de assumir. Decorre desse fator o verdadeiro sentido das letras e motivos pelos quais Vandré compôs suas músicas - antes de defender a destruição do Regime, ele ansiava pelo dia em que as Forças Armadas abrissem mão da política e voltassem a ser aqueles defensores da Pátria de antes do Golpe.

Como bem narrou Geneton Moraes Neto: "Geraldo Vandré vive hoje em um país onde existe um homem só - o próprio Vandré". Esquecido, busca nas memórias e nos amigos que fez dentro das Forças Armadas sua razão de viver.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O Filho do Hamas

A postagem de hoje é sobre um livro que estou terminando de ler que leva o mesmo título. Como imaginar o mundo árabe-israelense por um olhar que vai além da guerra e do genocídio que aparece todos os dias nos principais veículos de comunicação? Até que ponto muçulmanos e judeus podem conviver juntos unidos por um só ideal - a paz? Estas são propostas discutidas pela obra.

Ao iniciar minha leitura, vi que o livro poderia ser mais uma obra ficcional sobre um garoto que nasce em meio à pobreza do mundo árabe e margeado pelo crescimento fenomenal atingido por Israel a custa de muitos conflitos diários desde 1948, ano da oficialização da criação de seu Estado pela ONU (e ao meu ver, um dos erros mais crassos da humanidade não pela iniciativa em si, mas pela forma como foi conduzido). No entanto, as primeiras páginas já revelam fatos reais contidos naquela trama e deixam o leitor com o sinal de alerta ligado: aquela é uma leitura que vai te trazer muitas surpresas ao longo das páginas.

Longe de focar a abordagem apenas para o lado do conflito, o passeio no qual o leitor mergulha é mais profundo: cultura, história e cotidiano se misturam em um desabafo de uma memória encerrada em um mundo que mais parece um barril de pólvora prestes a chegar no limite de seu estopim. As palavras de Hassam Youssef, protagonista da obra, nos deixam a impressão de que ainda existe muito daquele mundo a ser descoberto e esse desvendamento passa, antes, pela superação de velhos preconceitos em torno do que sabemos e ouvimos sobre o Oriente Médio.

Em resumo, é uma leitura que indico para os apreciadores desse mundo. Sem ter a pretensão de copiar O Caçador de Pipas ou qualquer outra obra do gênero, O Filho do Hamas é uma história sobre paixões, família, cultura e guerra que faz o leitor ser parte do mundo árabe e enxergá-lo com outros olhos, percebendo que esses dois povos têm mais coisas em comum do que as guerras ou as notícias podem nos fazer imaginar.

sábado, 3 de julho de 2010

Uma Copa pela Paz

Em épocas de Copa do Mundo, as atenções se voltam para um momento único que une, através do esporte, os quatro cantos do planeta em uma festa que celebra a diversidade, o respeito e a alegria entre as nações. O espírito criador do evento, no entanto, remete a 25 anos antes da realização da primeira edição do evento, em 1930 no Uruguai.

Escolhida para ser a sede de um evento que teria como principal intenção a superação dos traumas causados pela Grande Guerra Mundial de 1914-1918, o Uruguai teria a responsabilidade de colocar frente à frente adversários com histórias nem sempre felizes fora das quatro linhas. Era um desafio que estava muito além das fronteiras entre os países - era uma questão, especialmente, humanitária.

De um lado, países com bagagem no esporte, como a Inglaterra e a França; do outro, países em busca de emergência através de suas ideologias políticas transferidas à prática competitiva como Itália e Alemanha. Entre estes, países que buscavam a integração com o mundo europeu e a superação de barreiras históricas marcadas pela velha visão etnocêntrica de mundo. Disputando uma competição em um formato simples, onde todos os times jogavam contra todos, não havia fase eliminatória ou classificatória: o objetivo era vencer as barreiras do esporte e do preconceito, sendo campeões da vida e enterrando de vez um fantasma que havia deixado, 12 anos antes, 8 milhões de mortos.

O estádio Centenário, com estrutura recorde e custos de 1 milhão de dólares na época, foi responsável por ser palco de outra importante celebração: os 100 anos da Constituição Uruguaia. Mesmo não agradando aos países europeus, que teriam que arcar com as despesas da travessia do Atlântico, a Copa estava mantida na América do Sul e teve nos donos da casa os primeiros campeões. A Celeste Olímpica já havia mostrado sua força dois anos antes ao bater nos jogos olímpicos a forte Alemanha por 4x1.

O presidente da FIFA, o francês Jules Rimet, comemorou com bastante fervor o sucesso da Copa. Pena que, 9 anos mais tarde, o ideal da entidade não fosse suficiente para evitar um novo conflito mundial entre as nações, dessa vez ainda mais devastador. No entanto, ficava uma lição: a Copa era o momento máximo do futebol e a principal alegria do povo nos quatro cantos do mundo.

sábado, 15 de maio de 2010

A incrível arte de copiar

Observando as formas como os povos antigos inventaram seus meios para facilitar sua evolução e afirmação de suas culturas, me convenço cada vez mais de que não existiu povo na Antiguidade mais capaz de copiar e aperfeiçoar modelos como os romanos. Desde armas, técnicas e vestuário, até a mitologia, os romanos foram capazes de reelaborar, de acordo com sua utilidade, os modelos preexistentes na humanidade.

Alguns autores estudiosos defendem, pela incrível capacidade de desenvolver armas como as fortalezas móveis de combate, as catapultas e os lançadores de dardos a capacidade romana em inventar. Eu observo que os romanos, na verdade, são povos práticos que tentaram reinventar modelos até então vistos como eficazes em busca de eficiência para suas atividades cotidianas, especialmente a expansionista.

Não somente na arte da guerra, mas principalmente na arte cotidiana os romanos destacaram modos de vida, comportamentos e expressões que já existiam desde a Grécia Antiga: as casas de banho e termas serviam como mercados, estalagens e até mesmo prostíbulos, buscando uma maior sociabilidade entre os cidadãos que aprenderam a luxúria e o poder como padrões sociais de um povo que se julgava "o centro do mundo antigo conhecido".

Como popularmente dito, "na natureza nada se cria, tudo se copia"; Penso que esse ditado reflete bem os romanos em muitas de suas práticas.

sábado, 24 de abril de 2010

Servindo a Deus e ao Dinheiro ao mesmo tempo...

A postagem de hoje é uma crítica à postura assumida pela Arquidiocese de Olinda e Recife quando da venda do terreno que hoje abriga o Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano, vulgarmente conhecido por Tamarineira, a um grupo de investidores estrangeiros que desejam construir na área um complexo comercial com lojas e estabelecimentos alimentares.

É engraçado como Dom Fernando Saburido, arcebispo emérito de Olinda e Recife, prega para que sigamos os preceitos católicos e não abandonemos os ensinamentos contidos nos testamentos de forma contundente. Adepto do Concílio Vaticano II, Dom Fernando acabou contradizendo o tema da Campanha da Fraternidade 2010 pregado pela comunidade católica no mundo inteiro que se inspira na passagem do livro de Mateus, cap. 6, versículo 24 que diz: "Não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo".

Para uma instituição que, historicamente, lutou contra a espoliação, o acúmulo de capital indevido e as constantes calamidades provocadas pelo mundo capitalista, parece-me que a ideologia vai encontrando suas frestas aos poucos dentro dos próprios membros pregadores da palavra. É de uma demagogia impressionante a forma como determinadas figuras de imagem projetada como os religiosos vão minando e destruindo os preceitos pregados como orientações para a vida em torno de uma sociedade que, a cada dia que passa, se pauta pelo consumo. Pelo visto, o justo preço morreu junto com a Idade Média e a ideologia da Igreja não foi plenamente restaurada pela Contrarreforma.

O caso da Tamarineira representa uma heresia não somente do ponto de vista conceitual, como também remete a uma observação do ponto de vista social: onde irão os doentes em tratamento? Seriam deslocados para os CAPES (Centros de Apoio Psicossocial) da Prefeitura, que não cuida nem mesmo dos buracos nas vias e do lixo nas calçadas, mas gasta fortunas no Carnaval e no São João? E com relação aos arquivos e fichas, prontuários e levantamentos de estudos médicos desde a fundação do hospital? Irão parar naquele amontoado de papéis sem organização que é chamado de Arquivo Público da Rua Imperial? Eu penso que essas eram questões que deveriam ter sido pensadas antes de se tomar qualquer atitude.

No "frigir dos ovos", para quem acha que não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo, a Igreja Católica dá mais uma prova de falhas históricas grosseiras com esses comportamentos que apenas reforçam o crescimento desenfreado das religiões protestantes no Brasil.

domingo, 11 de abril de 2010

O Presidente e os porcos

Lendo blogs de outros grandes historiadores, transcrevo hoje uma postagem do prof. Biu Vicente, da UFPE, a respeito de atitudes do Presidente Lula, onde existem referências de uma grande obra da Literatura do Séc. XX - A Revolução dos Bichos de George Orwell.

Sobre porcos e sabedoria rural

Uma das mais interessantes fábulas criadas no século XX foi a Revolução dos Bichos, ou a Fazenda dos Animais, na qual o autor faz uma crítica à revolução de 1917, ocorrida na Rússia, especialmente em suas conseqüências quanto ao uso do poder e dos grupos que o tomaram para si. Chama atenção ao fato de que foram os porcos que passaram a governar a fazenda em nome de todos os bichos que a habitavam. Enquanto governavam, os porcos, seus parentes e amigos, ganhavam gordura e agiam com a arrogância que sempre foi própria dos antigos governantes. Antes, magros e com olhares quase sempre de insatisfação e permanente irritação com tudo que não fosse ligado aos seus interesses imediatos, os porcos se tornaram bem alegres, sempre presentes em banquetes e prontos a darem soluções aos problemas que afetavam ao resto da fazenda, enquanto aumentavam as suas cotas de gordura e satisfação para consigo mesmos. A Fazenda dos Animais, ou seja, a fábula de Orson Wells chegava o final com a fazenda sendo bem administrada a partir do interesse dos porcos sempre alegres e felizes, os ratos alegres com as sobras dos banquetes, os cachorros sempre com rabos balançando com a chegada dos poderosos e prontos para defendê-los, enquanto os burros, os cavalos,os bois continuavam a trabalhar e a pastar. Fez por outra a ração de aveia dava uma pequena melhorada, o que permitia que as críticas arrefecessem um pouco, diminuindo o trabalho dos cachorros na manutenção da nova ordem que necessitava uma nova história que justificasse aquilo que os porcos definiam como sendo a verdade social e comum a todos: a sua verdade.

Sobre porcos, havia uma ditado popular que se referia à necessidade de entabular conversa com os seus iguais, era um tempo em que fazendeiros tinham muitos empregados e preferiam entabular conversa entre si e, deixar claro para os demais que eles, os proprietários, preferem conversar entre si. Assim diziam: “não quero conversar com os porcos, mas com os donos dos porcos”. A frase era dita para lembrar aos não proprietários a sua insignificância social. Os estudos sobre sociedade demonstram que processos de assimilação de novos valores sociais tomam tempo. Creio que é mais ou menos isso que nos ensina Norbert Elias em sua análise do processo civilizacional europeu entre o Renascimento e a Grande Guerra do início do século XX, a que gerou oportunidade para o sucesso de alguma revolução.

Talvez isso explique a mais recente hilária e lamentável exposição da sabedoria popular pelo presidente da República ao chamar prefeitos de donos de porcos e o povo de porco. Esses códigos do mundo rural, quando dito por quem cresceu no universo urbano e de maquinárias, levam ao desrespeito e a demonstração de distância daquilo que se quer mostrar intimidade. Mas uma coisa é certa, o presidente não pensava na fábula de Orson Well, que ele poderia ter lido na tradução de seu amigo, o poeta da classe média, Chico Buarque de Hollanda.

sábado, 10 de abril de 2010

Quando a limpeza vira sujeira...

Vendo algumas matérias que circulam pelos tablóides internacionais nas últimas semanas, lembrei de um caso que gostaria de comentar aqui: a visita do ex-presidente dos EUA, George W. Bush, ao Haiti. Fazendo pinta de bom moço, de figura carismática e diplomática, o Republicano apertou mãos, distribuiu abraços e evitou comentar sobre política, sobretudo sobre o governo de seu sucessor, o atual presidente Barack Obama.

Mas o fato que se destaca nisso tudo é que, mesmo rivais políticos, Obama conseguiu congregar as forças de Bush e de outro ex-presidente, Bill Clinton, na visita ao local. Após ter sucesso em sua iniciativa de "cuidar da América", buscando "justificar" o lema da Doutrina Monroe ("A América para os Americanos"), Obama apertou a mão de Bush que, prontamente após o fato, usou um tubo de álcool gel para "limpar" as mãos. Ironicamente, Bush ainda ofereceu o tubo a Obama.

Entendam como quiserem, mas eu não consigo ver outra coisa senão a velha rivalidade racial que está impregnada na sociedade americana há séculos e agravou-se, sobretudo, após a Guerra de Secessão (1860-1865) que levou negros e brancos a buscarem termos para convivência numa "nação democrática de fato e direito". Acontece que, desde esse processo forçado de construção nacional a partir de regiões e etnias, feito atabalhoadamente pelo ex-presidente Abraham Lincoln antes desse mesmo ser assassinado, negros e brancos não conseguiram encontrar pontos de convergência que os fizessem realmente deixar de lado estereótipos, tradições e modos de interpretar a situação pela nociva herança racial.

De qualquer forma, imagine se Bush tivesse tomado a mesma atitude quando visitou o Haiti... haja conteiners e conteiners de álcool gel para as mãos do republicano...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tiradentes... mártir ou enganação histórica?

É curiosa a forma como a Ditadura fabricou seus mitos e símbolos nacionais. No desejo de construir um país de cidadãos capazes e instruídos não somente para o trabalho, mas para a doutrinação cultural dos militares, os símbolos nacionais ganharam muita importância dentro e fora das salas de aula. Um deles, Tiradentes, parece que, depois de anos, consegue finalmente ter sua biografia realmente revelada em pormenores.

Desde o projeto que consta em A Devassa da Devassa (que por sinal é escrito por um americanista que estuda a História do Brasil - Kenneth Maxwell) de revelar um "Brasil em seus pormenores", como diria o autor, não se havia um estudo minucioso sobre a figura de um dos maiores heróis (???) da Terra Brasilis. De alferes a ourives, passando por funcionário das regiões mineradoras e autodidata, Tiradentes fez muito para um homem de poucos recursos e pouco prestígio em uma sociedade que ganhava contornos desenvolvimentistas diferentes em determinados aspectos da antiga ordem colonial.

As novas ideias de Tiradentes podem ser conferidas na Revista Aventuras na História ed. 80 de março de 2010, onde vários pontos de vista, especialmente sobre incapacidade de Tiradentes em assumir uma postura ofensiva diante dos planos dos inconfidentes, eximindo estes de culpa pelo fracasso do movimento, são abordados. Destaque para a inspiração maçônica que deu origem à bandeira de Minas Gerais, símblo dos inconfidentes e das ideias republicanas.

O fato é que, na minha visão, Tiradentes não é o que a matéria chama de "autêntico herói nacional". Essa necessidade de existirem heróis na História deixa uma sensação de que existe uma crise na mesma à espera de figuras emblemáticas que realizem feitos extraordinários capazes de fazer a historiografia se livrar da maioria de suas fontes e voltar para o trabalho de campo, investigando novamente os fatos a partir de ocorridos no cotidiano, esmigalhando, como diria Françoise Dosse, a História em pedaços.

Minha conclusão sobre a imagem de Joaquim José da Silva Xavier ainda é a de um homem que buscou na Inconfidência Mineira a superação do seus fracassos pessoais e profissionais, onde através de um grande acontecimento seria capaz de superar seus próprios dilemas e se fazer presente perante a sociedade burguesa que começava a se formar na região das Minas Gerais. O feriado está próximo, mas, apesar de esquartejado sem ter sido pego armado ou com nenhum plano em mãos, será mesmo que esse "bicho" todo pode girar em torno da imagem desse simples homem?

Enfim... no final das contas, o brasileiro vai apenas aproveitar o ditado: "o Brasil é o país do amanhã... e amanhã é feriado".

Desculpas públicas...

Essa postagem curta é para pedir desculpas pelo real abandono no qual o Mochila se encontrava. Hoje fiquei triste em ver que minha última postagem tinha sido em novembro do ano passado, o que comprova o tempo em que esse espaço ficou inativo podendo ser melhor aproveitado. Sei que algumas pessoas gostam daqui e por elas, procurarei dar uma dedicação melhor às postagens. Sei também que já prometi isso uma vez, mas tempo de professor é assim mesmo... um dia de trinta horas seria insuficiente. De todo modo, obrigado a todos pela compreensão e pelo carinho.