sábado, 24 de abril de 2010

Servindo a Deus e ao Dinheiro ao mesmo tempo...

A postagem de hoje é uma crítica à postura assumida pela Arquidiocese de Olinda e Recife quando da venda do terreno que hoje abriga o Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano, vulgarmente conhecido por Tamarineira, a um grupo de investidores estrangeiros que desejam construir na área um complexo comercial com lojas e estabelecimentos alimentares.

É engraçado como Dom Fernando Saburido, arcebispo emérito de Olinda e Recife, prega para que sigamos os preceitos católicos e não abandonemos os ensinamentos contidos nos testamentos de forma contundente. Adepto do Concílio Vaticano II, Dom Fernando acabou contradizendo o tema da Campanha da Fraternidade 2010 pregado pela comunidade católica no mundo inteiro que se inspira na passagem do livro de Mateus, cap. 6, versículo 24 que diz: "Não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo".

Para uma instituição que, historicamente, lutou contra a espoliação, o acúmulo de capital indevido e as constantes calamidades provocadas pelo mundo capitalista, parece-me que a ideologia vai encontrando suas frestas aos poucos dentro dos próprios membros pregadores da palavra. É de uma demagogia impressionante a forma como determinadas figuras de imagem projetada como os religiosos vão minando e destruindo os preceitos pregados como orientações para a vida em torno de uma sociedade que, a cada dia que passa, se pauta pelo consumo. Pelo visto, o justo preço morreu junto com a Idade Média e a ideologia da Igreja não foi plenamente restaurada pela Contrarreforma.

O caso da Tamarineira representa uma heresia não somente do ponto de vista conceitual, como também remete a uma observação do ponto de vista social: onde irão os doentes em tratamento? Seriam deslocados para os CAPES (Centros de Apoio Psicossocial) da Prefeitura, que não cuida nem mesmo dos buracos nas vias e do lixo nas calçadas, mas gasta fortunas no Carnaval e no São João? E com relação aos arquivos e fichas, prontuários e levantamentos de estudos médicos desde a fundação do hospital? Irão parar naquele amontoado de papéis sem organização que é chamado de Arquivo Público da Rua Imperial? Eu penso que essas eram questões que deveriam ter sido pensadas antes de se tomar qualquer atitude.

No "frigir dos ovos", para quem acha que não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo, a Igreja Católica dá mais uma prova de falhas históricas grosseiras com esses comportamentos que apenas reforçam o crescimento desenfreado das religiões protestantes no Brasil.

domingo, 11 de abril de 2010

O Presidente e os porcos

Lendo blogs de outros grandes historiadores, transcrevo hoje uma postagem do prof. Biu Vicente, da UFPE, a respeito de atitudes do Presidente Lula, onde existem referências de uma grande obra da Literatura do Séc. XX - A Revolução dos Bichos de George Orwell.

Sobre porcos e sabedoria rural

Uma das mais interessantes fábulas criadas no século XX foi a Revolução dos Bichos, ou a Fazenda dos Animais, na qual o autor faz uma crítica à revolução de 1917, ocorrida na Rússia, especialmente em suas conseqüências quanto ao uso do poder e dos grupos que o tomaram para si. Chama atenção ao fato de que foram os porcos que passaram a governar a fazenda em nome de todos os bichos que a habitavam. Enquanto governavam, os porcos, seus parentes e amigos, ganhavam gordura e agiam com a arrogância que sempre foi própria dos antigos governantes. Antes, magros e com olhares quase sempre de insatisfação e permanente irritação com tudo que não fosse ligado aos seus interesses imediatos, os porcos se tornaram bem alegres, sempre presentes em banquetes e prontos a darem soluções aos problemas que afetavam ao resto da fazenda, enquanto aumentavam as suas cotas de gordura e satisfação para consigo mesmos. A Fazenda dos Animais, ou seja, a fábula de Orson Wells chegava o final com a fazenda sendo bem administrada a partir do interesse dos porcos sempre alegres e felizes, os ratos alegres com as sobras dos banquetes, os cachorros sempre com rabos balançando com a chegada dos poderosos e prontos para defendê-los, enquanto os burros, os cavalos,os bois continuavam a trabalhar e a pastar. Fez por outra a ração de aveia dava uma pequena melhorada, o que permitia que as críticas arrefecessem um pouco, diminuindo o trabalho dos cachorros na manutenção da nova ordem que necessitava uma nova história que justificasse aquilo que os porcos definiam como sendo a verdade social e comum a todos: a sua verdade.

Sobre porcos, havia uma ditado popular que se referia à necessidade de entabular conversa com os seus iguais, era um tempo em que fazendeiros tinham muitos empregados e preferiam entabular conversa entre si e, deixar claro para os demais que eles, os proprietários, preferem conversar entre si. Assim diziam: “não quero conversar com os porcos, mas com os donos dos porcos”. A frase era dita para lembrar aos não proprietários a sua insignificância social. Os estudos sobre sociedade demonstram que processos de assimilação de novos valores sociais tomam tempo. Creio que é mais ou menos isso que nos ensina Norbert Elias em sua análise do processo civilizacional europeu entre o Renascimento e a Grande Guerra do início do século XX, a que gerou oportunidade para o sucesso de alguma revolução.

Talvez isso explique a mais recente hilária e lamentável exposição da sabedoria popular pelo presidente da República ao chamar prefeitos de donos de porcos e o povo de porco. Esses códigos do mundo rural, quando dito por quem cresceu no universo urbano e de maquinárias, levam ao desrespeito e a demonstração de distância daquilo que se quer mostrar intimidade. Mas uma coisa é certa, o presidente não pensava na fábula de Orson Well, que ele poderia ter lido na tradução de seu amigo, o poeta da classe média, Chico Buarque de Hollanda.

sábado, 10 de abril de 2010

Quando a limpeza vira sujeira...

Vendo algumas matérias que circulam pelos tablóides internacionais nas últimas semanas, lembrei de um caso que gostaria de comentar aqui: a visita do ex-presidente dos EUA, George W. Bush, ao Haiti. Fazendo pinta de bom moço, de figura carismática e diplomática, o Republicano apertou mãos, distribuiu abraços e evitou comentar sobre política, sobretudo sobre o governo de seu sucessor, o atual presidente Barack Obama.

Mas o fato que se destaca nisso tudo é que, mesmo rivais políticos, Obama conseguiu congregar as forças de Bush e de outro ex-presidente, Bill Clinton, na visita ao local. Após ter sucesso em sua iniciativa de "cuidar da América", buscando "justificar" o lema da Doutrina Monroe ("A América para os Americanos"), Obama apertou a mão de Bush que, prontamente após o fato, usou um tubo de álcool gel para "limpar" as mãos. Ironicamente, Bush ainda ofereceu o tubo a Obama.

Entendam como quiserem, mas eu não consigo ver outra coisa senão a velha rivalidade racial que está impregnada na sociedade americana há séculos e agravou-se, sobretudo, após a Guerra de Secessão (1860-1865) que levou negros e brancos a buscarem termos para convivência numa "nação democrática de fato e direito". Acontece que, desde esse processo forçado de construção nacional a partir de regiões e etnias, feito atabalhoadamente pelo ex-presidente Abraham Lincoln antes desse mesmo ser assassinado, negros e brancos não conseguiram encontrar pontos de convergência que os fizessem realmente deixar de lado estereótipos, tradições e modos de interpretar a situação pela nociva herança racial.

De qualquer forma, imagine se Bush tivesse tomado a mesma atitude quando visitou o Haiti... haja conteiners e conteiners de álcool gel para as mãos do republicano...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tiradentes... mártir ou enganação histórica?

É curiosa a forma como a Ditadura fabricou seus mitos e símbolos nacionais. No desejo de construir um país de cidadãos capazes e instruídos não somente para o trabalho, mas para a doutrinação cultural dos militares, os símbolos nacionais ganharam muita importância dentro e fora das salas de aula. Um deles, Tiradentes, parece que, depois de anos, consegue finalmente ter sua biografia realmente revelada em pormenores.

Desde o projeto que consta em A Devassa da Devassa (que por sinal é escrito por um americanista que estuda a História do Brasil - Kenneth Maxwell) de revelar um "Brasil em seus pormenores", como diria o autor, não se havia um estudo minucioso sobre a figura de um dos maiores heróis (???) da Terra Brasilis. De alferes a ourives, passando por funcionário das regiões mineradoras e autodidata, Tiradentes fez muito para um homem de poucos recursos e pouco prestígio em uma sociedade que ganhava contornos desenvolvimentistas diferentes em determinados aspectos da antiga ordem colonial.

As novas ideias de Tiradentes podem ser conferidas na Revista Aventuras na História ed. 80 de março de 2010, onde vários pontos de vista, especialmente sobre incapacidade de Tiradentes em assumir uma postura ofensiva diante dos planos dos inconfidentes, eximindo estes de culpa pelo fracasso do movimento, são abordados. Destaque para a inspiração maçônica que deu origem à bandeira de Minas Gerais, símblo dos inconfidentes e das ideias republicanas.

O fato é que, na minha visão, Tiradentes não é o que a matéria chama de "autêntico herói nacional". Essa necessidade de existirem heróis na História deixa uma sensação de que existe uma crise na mesma à espera de figuras emblemáticas que realizem feitos extraordinários capazes de fazer a historiografia se livrar da maioria de suas fontes e voltar para o trabalho de campo, investigando novamente os fatos a partir de ocorridos no cotidiano, esmigalhando, como diria Françoise Dosse, a História em pedaços.

Minha conclusão sobre a imagem de Joaquim José da Silva Xavier ainda é a de um homem que buscou na Inconfidência Mineira a superação do seus fracassos pessoais e profissionais, onde através de um grande acontecimento seria capaz de superar seus próprios dilemas e se fazer presente perante a sociedade burguesa que começava a se formar na região das Minas Gerais. O feriado está próximo, mas, apesar de esquartejado sem ter sido pego armado ou com nenhum plano em mãos, será mesmo que esse "bicho" todo pode girar em torno da imagem desse simples homem?

Enfim... no final das contas, o brasileiro vai apenas aproveitar o ditado: "o Brasil é o país do amanhã... e amanhã é feriado".

Desculpas públicas...

Essa postagem curta é para pedir desculpas pelo real abandono no qual o Mochila se encontrava. Hoje fiquei triste em ver que minha última postagem tinha sido em novembro do ano passado, o que comprova o tempo em que esse espaço ficou inativo podendo ser melhor aproveitado. Sei que algumas pessoas gostam daqui e por elas, procurarei dar uma dedicação melhor às postagens. Sei também que já prometi isso uma vez, mas tempo de professor é assim mesmo... um dia de trinta horas seria insuficiente. De todo modo, obrigado a todos pela compreensão e pelo carinho.