sábado, 1 de agosto de 2009

As Escolas Históricas

Atendendo a um pedido de Igor, vou falar um pouco sobre os Annales na postagem de hoje. Esse é um tema bastante debatido na academia e sempre está sendo alvo de novas leituras pelo interesse que desperta na comunidade de historiadores.

Antes de tudo, é preciso explicar o que significa uma Escola quando nos referimos a Escolas Históricas. Nesse sentido, uma Escola seria um grupo de pensadores que desenvolvem modos de enxergar e escrever diferentes do tradicional para diversificar o conhecimento histórico. A mais famosa das Escolas de pensadores da História é a dos Annales.

Nascida no início do século XX, a École dos Annales tem uma forte tradição francesa, sobretudo de historiadores que procuraram fugir do tradicionalismo da História Política dos grandes feitos dos reinos e impérios, dos grandes vultos da História, das grandes batalhas e revoluções - o que também é chamado de Escola Tradicional ou Evementiélle. A intenção dos Annales é observar os pormenores da História, os excluídos, aqueles que foram esquecidos pela Historiografia (a forma como se escreve a História) Oficial até o século XIX.

Notabilizaram-se por serem grandes pensadores dos Annales: Fernand Braudel, Marc Bloch, Jacques LeGoff, René Remond, entre tantos outros. Os referidos autores exploraram conhecimentos como a História das Crianças, das Doenças, da Memória das pessoas que viveram uma época, das Culturas, entre outras leituras importantes e diferenciadas da História. Ganharam projeção e respeito, sobretudo na França e na Inglaterra.

A partir dos anos 1960, portanto quarenta anos depois de sua fundação, a Escola dos Annales passou pelo que nós chamamos de "virada linguística", observando o surgimento de uma intersecção entre a Literatura e a História, revendo a forma como esta era escrita a partir da Análise de Discurso (forma como se entende a montagem e as características de um texto, bem como seu sentido explicativo). A História então passou a receber importantes contribuições do pós-Estruturalismo e do Pós-Modernismo, especialmente pelos estudos de Michel Foucaut e de Michel de Certeau. Outros foram igualmente bastante importantes, como os ingleses E.P.Thompson e o marxista Eric Hobsbawn.

Assim, uma Escola Histórica tem por finalidade analisar, esmigalhar, destrinchar a História em suas mínimas partes, em seus mínimos detalhes, sempre utilizando-se de ferramentas que possam promover uma interatividade de conhecimentos que enriqueçam seu trabalho. Atualmente, a História vive uma relação muito forte com a Literatura e as produções têm se voltado bastante ao discurso crítico.

O mais importante é a forma e a importância dada pelos Annales ao trabalho do Historiador. Certa feita, essa semana em minhas leituras vi que o historiador italiano Carlo Ginzburg disse que "o historiador nunca é estranho ao seu tempo". Se o historiador não estiver atento aos pormenores da História, bem como ser conhecedor de uma boa técnica de investigação, de busca dos fatos, assim como tiver uma escrita fácil e bastante apurada, ele sempre estará dando voltas em círculos e não trará nenhum conhecimento realmente relevante para a historiografia, apenas discutindo o que já foi produzido.

Foi a partir desse aprendizado que escolhi meu tema de mestrado: Os Brincantes do Silêncio - A atuação do Estado Ditatorial no Carnaval do Recife (1968-1975).