terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Adotar é preciso

No dia 25 de setembro do ano passado, a Folha de Pernambuco trouxe uma curta reportagem sobre o bloco de máscaras Galo da Madrugada (reconhecidamente o maior do mundo) que falava da adoção da Praça Sérgio Lorêto, local de partida do tradicional desfile do bloco todos os anos no sábado de Zé Pereira, pelo mesmo. Inicialmente, não é uma notícia tão impactante, mas pense no outro significado que esse anúncio possuiu.

Em 2009, o fundador do Galo (falecido em 2008), Enéas Freire, será o homenageado do Carnaval do Recife, ao lado do artista plástico Cícero Dias e do compositor Carlos Fernando. A praça Sérgio Lorêto, antes abandonada pela Prefeitura do Recife (não entendo o porquê...), ganhará duas estátuas em tamanho mediano: uma do fundador e uma do animal que representa o bloco, que decidiu adotar a praça por esta historicamente ser um marco anual do desfile da agremiação, que atrai mais de 1,5 mi de foliões todos os anos para as ruas do Recife.

Este pequeno gesto do ex-genro de Enéas Freire e responsável pelo Palácio do Galo - um local que reúne toda a história da agremiação e parte considerável da história do Carnaval de Recife a partir de 1979 - Rômulo Meneses, indica exatamente a importância que as autoridades deveriam dar às praças do Recife. Antes vistas como espaços de convivência, especialmente durante os séculos XVIII, XIX e XX (até os anos 80), as praças do Recife foram deixadas ao acaso, mal cuidadas pelas autoridades públicas, tomadas como espaços de vândalos e mundanos, vistas como locais de alta periculosidade e não mais como ambientes saudáveis onde famílias, casais e amigos pudessem desfrutar de agradáveis horas de boa conversa e companhia.

Atualmente, os gestores públicos preocupam-se em impactar olhares através de projetos faraônicos como o Parque Dona Lindu, mas esquecem que as praças foram espaços onde se construiu muito da cultura pernambucana, onde nasceram as inspirações de poetas, pintores, escritores, artistas plásticos, cordelistas, entre outros. Apagar a importância das praças do Recife da memória do povo é ignorar a constituição da história cultural do Recife e, sobretudo, de Pernambuco.

Tiro o chapéu para a iniciativa do Galo, pois se as autoridades não se importam, ainda há aqueles que sabem reconhecer aquilo que Recife e Pernambuco possuem, culturalmente, como memórias autênticas e muito vivas de sua longa história.

E que venha a folia de Momo pra gente ver o Galo passar...!

Um comentário:

  1. Porra, podes crer...

    Um grande exemplo desse descaso com as praças do Recife foi a Praça do Derby. Era uma praça bastante frequentada pelas famílias. Muito bem cuidada, bonita, possuia uma Peixe-Boi chamada Xica, que divertia as crianças que ali brincavam...

    O tempo passou, a prefeitura foi deixando a Praça entregue às moscas. E o que se via era meninos de rua cheirando cola pela praça e roubando senhoras de idade que por ali passavam. Digo isso porque no Derby morei e presenciei fatos como este.

    No último ano, em 2008, a prefeitura decidiu dar um "Upgrade" em tuda aquela área do Derby, reformando não só a Praça (que retomou suas características paisagisticas originais), como também reformou toda a estrutura do trânsito e das paradas de ônibus(que diga-se de passagem, estava uma nojeira!!!).

    As praças são espaços de grande valia numa cidade grande, pois além de ajudar a construir a cultura de uma cidade (como Diogo disse no post), é essencial para amenizar o impacto térmico de uma cidade grande. As cidades deveriam valorizar mais as praças, não adianta só construí-las, deve-se realizar manutenção periodicamente.

    Foi uma bela obra a reforma da praça do derby, mas se a prefeitura deixá-la sem manutenção e não fiscalizá-la, a situação poderá voltar a ser como antes. Isso também vale para as demais praças.

    ResponderExcluir

Comente, faça diferente, participe do debate!