quarta-feira, 26 de março de 2008

O Vôo Cinqüentenário da Canarinha

A postagem de hoje refere-se a uma das fundamentais páginas da História do Brasil enquanto país rotulado como "país do futebol": a conquista da Copa de 1958, um ano efeverscente dentro da perspectiva política no país, completa hoje 50 anos.



Vendo hoje à tarde o amistoso da Seleção Canarinha contra a Suécia (o mesmo adversário que enfrentamos na final daquela Copa de 1958), que comemorou a lembrança desse jogo histórico, pois pela primeira vez uma Seleção de futebol sagrava-se campeã fora de seu continente de origem, vi imagens da sociedade carioca que recebeu os campeões mundiais que me lembraram um Brasil que passava por transformações como a Bossa Nova, o surgimento da Jovem Guarda e o surgimento de novos valores sociais.



Impolvoroso, o povo brasileiro assistia, no meio das ruas, uma efetiva política de Pão e Circo que, pela primeira vez distraía com alegria, uma vez que havíamos perdido a Copa de 1950 no Maracanã para o Uruguai de virada por 2x1. Essa política, originária na Roma Antiga, que prezava pela diversão do povo em detrimento do esquecimento dos problemas que afetavam a sociedade naquele momento, ainda se repetiria outras 4 vezes em nosso país quando o assunto fosse futebol, mas em momentos distintos (1962, 1970, 1994, 2002).



É notório que, durante o governo de Juscelino Kubitschek, o Brasil avançou realmente, no que se propôs o famoso Programa de Metas, os famosos "50 anos em 5"; em compensação, regrediu 5 anos também quando observamos as camadas mais baixas da sociedade e o povo do sertão. Prova disso é que, na entrada dos anos 60, ganham força as famosas Ligas Camponesas, que ficaram imortalizadas na figura de Francisco Julião. O que está realmente em jogo aqui é analisar que, na altura de 1958, JK enfrentava as pressões decorrentes sobretudo de seu maior crítico, Carlos Lacerda, pela construção da atual capital federal bem no coração do Brasil (Brasília, inaugurada a 21 de abril de 1960), o que fez seu governo levar os 2 últimos anos aos trancos e barrancos, sempre numa gangorra onde deveria apoiar tanto as elites nacionais de Direita como também as inquietas frentes de Esquerda, que aproveitarão a transição para os anos 60 nos governos de Jânio Quadros e João Goulart para buscar seu lugar ao sol.



Voltando para a questão das comemorações pelo Cinqüentenário da conquista da Seleção Canarinha em 1958, vimos a população buscando construir suas imagens e histórias com exemplos de atletas de sucesso na época como Pelé (com apenas 17 anos), Garrincha, Zagallo, Didi, Gilmar, Nilton Santos (A Enciclopédia do Futebol, seu apelido), o capitão do time Bellini, entre outros. A História do Populismo no Brasil escrevia ali uma nova página de aproximação do povo com os feitos de seu governo, que de pronto buscou homenagear os campeões do mundo com medalhas de honra ao mérito.



Enfim, a reflexão que deixo aqui é: a sociedade brasileira é uma sociedade construída ao longo da História, lapidada com cuidado pelos homens que ocuparam o posto de chefes da mais importante nação da América do Sul. Como seria essa sociedade se, durante a sua história, não houvesse ídolos nos quais cada brasileiro pudesse se espelhar e buscar exemplos, abafando os problemas em seu contexto diário, na busca da construção de um novo amanhã?



Deixo a vocês e em homenagem à Seleção, que vencia brilhantemente aquela partida por 5x2, uma foto dos chamados "heróis de Estocolmo".




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